Marco Bucaioni
Universidade de Lisboa
ORCID 0000-0002-4646-683X
Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.

Maus tradutores e bons intérpretes: ficcionalizações da manipulação da tradução nas literaturas africanas de língua portuguesa
Dedalus 26 (2022), pp. 111-135. Download PDF

Abstract

This article presents some exemplary cases of fictional translators and translation situations in Portuguese-Language African Literatures, drawn from José Eduardo Agualusa, João Melo, Mia Couto and João Paulo Borges Coelho’s works. Given the scarcity of representations regarding the literary translator, we resorted to situations of interlingual interpretation involving two unevenly positioned linguistic codes. As we found out, every case contained a deliberate manipulation of the translated message, in order for the translator to gain some personal/community advantage. The victims of this manipulation are mostly foreigners endowed with a high cultural/linguistic status. We aim to show that these conscious manipulations can be seen as an attitude of decolonial resistance against the Modernity/Coloniality nexus, represented by global foreigners: the subaltern (the African) empowers themselves as translators, as arbiters between two linguistic codes, and in so doing subvert the order of things.
 
Keywords: translation manipulation; decoloniality; epistemic resistance; African literatures


Resumo
Este artigo apresenta alguns casos de traduções ficcionais e de situações de tradução nas literaturas africanas de língua portuguesa, retirados da obra de José Eduardo Agualusa, João Melo, Mia Couto e João Paulo Borges Coelho. Considerada a escassez de representações do tradutor literário nestas literaturas, decidimos utilizar situações de interpretação interlinguística que envolvem dois códigos posicionados de forma desigual. Descobrimos que cada caso contém uma manipulação intencional da mensagem traduzida, de forma a o tradutor ganhar alguma vantagem pessoal ou para a sua comunidade linguística. Na maioria dos casos, as vítimas dessa manipulação são estrangeiros dotados de um estatuto linguístico-cultural alto. Essa manipulação consciente pode ser vista como uma atitude de resistência decolonial contra o nexo modernidade/colonialidade, representado pelos estrangeiros globalizados: o subalterno (o africano) ganha poder como tradutor, sendo o único árbitro entre dois códigos linguísticos, e desta forma subverte a ordem das coisas.

Palavras-chave: manipulação da tradução; decolonialidade; resistência epistémica; literaturas africanas